Altruísmo ativa região de prazer do cérebro

​Um estudo liderado pelo neurocientista brasileiro Jorge Moll Neto, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, traz agora uma nova explicação.


Ao fazermos uma boa ação, segundo ele, acionamos no cérebro o sistema de recompensa ("brain reward system"). O mesmo que se acende em situações de prazer, como comer chocolate, fazer sexo, ganhar dinheiro ou consumir drogas.

A pesquisa publicada na revista PNAS, foi feita com 19 voluntários submetidos à ressonância magnética funcional enquanto tinham de decidir o que fazer com os US$ 128 que haviam acabado de receber: se guardavam para si ou doavam para alguma instituição filantrópica.

A ressonância mostrou que a simples doação ativava tanto o sistema de recompensa como uma outra parte do cérebro conhecida como córtex subgenual, relacionado às ligações duradouras entre as pessoas.

Quando fazemos uma doação, nosso sistema de recompensa (mesolímbico dopaminérgico) é ativado, assim como o córtex subgenual, que é a região envolvida com o apego social, com a formação de laços afetivos de longo prazo, como o que ocorre entre mãe e filho, entre casais e entre amigos.

Segundo Moll em entrevista a um grande jornal paulistano, descobrimos que temos em nossa biologia uma predisposição a valorizarmos a doação. Mas é claro que existem diferenças entre as pessoas, que só podem ser explicadas pela variabilidade genética: uns são mais capazes de sentir empatia que outros. Em um extremo, temos os psicopatas, incapazes de se ligar tanto a pessoas quanto a normas sociais. Do outro lado, temos os exemplares morais, como aquelas pessoas que enfrentavam riscos enormes para salvar os judeus na Segunda Guerra. Mas se olharmos uma sociedade como um todo, é claro que a cultura faz diferença. O sistema de valores de um povo é capaz de encorajar as pessoas a terem atos mais altruístas ou mais agressivos. Dependendo da cultura, ela vai estimular representações cerebrais que podem promover comportamentos socialmente mais louváveis. Quando o contrário ocorre, há muita injustiça, as pessoas se voltam para princípios muito mais elementares de sobrevivência individual.

No entanto, o importante desse estudo é que ele mostra um princípio: que temos mecanismos cerebrais que explicam emocionalmente porque uma pessoa faz coisas altruístas mesmo sem nenhum ganho pessoal, nem mesmo de visibilidade social. O problema é quando a estrutura social não oferece nem oportunidade de a pessoa tentar fazer alguma coisa. E aí não importa que o cérebro diga que fazer o bem é bom, porque não vai adiantar.

A sociedade sempre criticou a famosa "corrente do bem", com ressalvas e preconceitos. Muitos cientistas sempre foram incrédulos a ela, mas, no estágio atual, os exemplos motivam mesmo. Na pesquisa coordenada por

Moll, só de pensar em fazer o bem os voluntários já ativavam o sistema de recompensa e liberavam uma carga de dopamina (neurotransmissor envolvido na sensação de bem-estar). Uma vez que a neurociência compreende os mecanismos por trás disso, percebemos que é fato, que temos um sistema cerebral que estimula o altruísmo. Então passa a ser uma verdade biológica, embora sem intenções reducionistas.

Anexos

 

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